quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Doutor, o senhor garante?


O cliente é um consumidor que, no caso da advocacia, paga pela realização de um serviço, e espera, como todo cliente, bons resultados. É muito comum depararmo-nos com questões do tipo: O senhor garante? A resposta afirmativa a perguntas desse tipo deve ser evitada a qualquer custo, mesmo que implique na perda do pretenso cliente.
A conversa da família, nesses casos, é sempre a mesma: "O senhor garante que ele sai? Não! Garanto que farei o que estiver ao meu alcance para que ele saia, mas quem decide é o juiz, e se o juiz não soltar, iremos ao Tribunal e, se necessário, aos Tribunais Superiores. Ah, mas o Doutor Fulano falou que em cinco dias ele está na rua".
Há quem goste de se vangloriar dizendo: "Eu garanto"; "Eu solto"; "Eu absolvo". Profissionais assim podem até angariar novos clientes, mas com o passar do tempo vão perdendo a credibilidade, colocando em risco a imagem profissional e até mesmo a própria vida, e quem está habituado a militar na área criminal sabe muito bem disso.
Não há problemas na criação de um portfólio indicativo dos resultados já obtidos, mas as promessas de absolvição e de soltura são muito perigosas, até porque quem absolve ou solta é o juiz e não o advogado, que realiza um serviço de meio e não de fim. A melhor das defesas, nas mãos do pior dos juízes, pode não surtir efeito.
O advogado iniciante, quando se depara com os primeiros clientes, fica tentado a "garantir" o resultado para não perder para a concorrência, razão pela qual essa me parece uma das mais importantes lições a ser aprendida por aqueles que se iniciam na carreira. A única garantia é a da realização de um trabalho sério e de qualidade.
Alguns clientes optarão pelos advogados que "garantem" o resultado, mas algum tempo depois esses mesmos clientes retornam, insatisfeitos, dizendo que gastaram muito dinheiro e que não adiantou nada. Ninguém pode prometer algo que depende das decisões de uma outra pessoa, ou até mesmo de outras pessoas, como no júri.
O advogado deve ter a capacidade de perceber quais são as chances do cliente, explicando o que pretende fazer e o que almeja conseguir, deixando claros os riscos e prevendo possíveis surpresas. O insucesso na primeira instância, muitas vezes, pode ser revertido nas instâncias superiores, a menos que o advogado desista.
Nenhum advogado precisa sair dizendo que absolve, que solta, que faz e acontece. A construção da reputação de um profissional vai muito além do marketing pessoal e não depende tanto do que ele diz, mas daquilo que os outros dizem. Ademais, qualquer um pode consultar processos pelo nome do advogado no site do Tribunal e saber a verdade.
Quando estagiário, cansei de ver advogados dizendo que "ganhavam" muitos júris, que soltavam, que absolviam. Eu assistia aos julgamentos, pesquisava na internet e via que aquilo nem sempre era verdade. É preciso ter muito cuidado com esse tipo de prática, pois há muita gente que não sabe lidar com expectativas frustradas.

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