domingo, 22 de julho de 2012

Dica de leitura: Tiras, Gansos e Trutas



É possível tratar a respeito da advocacia criminal estabelecendo-se uma ordem cronológica que vai desde a atuação na fase policial até a fase recursal e de execução da pena. O blog não tem essa pretensão e abordará temas sortidos, sempre relacionados ao exercício da advocacia, mas sem obedecer a nenhum tipo de ordem cronológica. Contudo, a menção à prisão em flagrante no último post me fez lembrar de um livro muito útil para aqueles que se iniciam na advocacia criminal, capaz de levar à compreensão acerca das relações que se estabelecem nas Delegacias de Polícia.
O livro intitulado "Tiras, Gansos e Trutas: Segurança Pública e Polícia Civil em São Paulo" foi escrito por Guaracy Mingardi, um cientista social que, para realizar a sua pesquisa de campo, ingressou na Polícia Civil de São Paulo. Os dados obtidos através da experiência e de entrevistas fundamentaram uma tese de mestrado que mais tarde deu origem ao livro. Trata-se de uma análise extremamente crítica, que abrange o período compreendido entre 1983 e 1990, mas que ainda se mantém atual, já que as relações que se estabelecem nas Delegacias de Polícia permanecem as mesmas.
Aqueles que acreditam que não há mais espaço para a tortura em nosso País e que esse tipo de prática morreu com a ditadura militar deveriam ler este livro, que também desnuda, de maneira corajosa, o problema da corrupção policial. Há também, no final da obra, um interessante e esclarecedor "glossário da gíria policial".  A leitura desse livro é indispensável e serve para suprir uma lacuna verificada nos livros de direito penal e de direito processual penal que, como é sabido, não bastam para alicerçar a atuação de um advogado criminalista.
Descobri este livro numa nota de rodapé de uma obra sobre criminologia escrita pelo professor Sérgio Salomão Shecaira. Não o encontrei nas livrarias tradicionais e fui obrigado a vasculhar inúmeros sebos para comprá-lo. Não se pretende trazer uma resenha, pois seria até injusto tentar resumir um trabalho tão corajoso em poucas linhas, mas apenas despertar a curiosidade de outros jovens criminalistas a respeito de um tema importantíssimo.

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