sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Trabalhar...


É impressionante como os fatos que chegam ao nosso conhecimento através da advocacia nos fazem refletir acerca de nós mesmos e da vida como um todo. Venho atuando, já há algum tempo, em um caso de homicídio ocorrido no ambiente de trabalho e confesso que a proximidade do desfecho tem despertado em mim reflexões muito interessantes, nesse caso, a respeito da própria necessidade de trabalhar.
Aliás, é mesmo uma necessidade? De acordo com as escrituras sagradas, por conta do pecado o homem foi punido: "Comerás o pão com o suor do teu rosto". Durante muito tempo o trabalho foi encarado como uma punição e os nobres orgulhavam-se por não precisarem disso. Para mim, contudo, o trabalho é um verdadeiro privilégio.
É inegável que nossos próprios instintos de sobrevivência e de preservação da espécie nos impelem ao trabalho, que nos proporciona o alimento, a moradia e a segurança de que tanto necessitamos. Mas a realização pessoal, que diz respeito ao nosso ego, à nossa auto-estima, também interferem decisivamente nesse processo.
Diz-se que o trabalho enobrece o homem, o que é verdade, na medida em que desperta a vontade de servir, de ajudar ao próximo, evidenciando que a função social do trabalho diz respeito tanto a nós quanto aos outros. Progredimos e evoluímos através do trabalho, mas também contribuímos para o progresso e a evolução da comunidade.
Lutamos em busca de melhores condições de vida, de conforto, de saúde e de educação, para nós e para os nossos. O trabalho nos dá a oportunidade de educar e de cuidar de um filho, e também a de amparar os pais, que nos ampararam por toda a vida, sempre com muito trabalho. Mas, afinal, trabalhamos para viver ou vivemos para trabalhar?
Também dizem que viver é morrer aos poucos e que quanto mais vivemos, mais nos aproximamos da morte. Em busca dos benefícios proporcionados pelo trabalho, muitas vezes, deixamos de gozar a vida em sua plenitude, nos afastando da família, dos filhos, dos pais, dos amigos, deixando de lado os momentos de lazer e até os de descanso.
Buscando melhorar de vida, perdemos em qualidade de vida e quem paga o preço, na grande maioria das vezes, é a nossa saúde. Paradoxalmente, trabalhamos para comprar roupas e carros, para irmos trabalhar. Há, portanto, aspectos positivos e aspectos negativos relacionados ao trabalho, e nós buscamos encontrar um equilíbrio.
Não sei dizer se trabalhamos para viver ou se vivemos para trabalhar, mas o fato é que o trabalho se confunde tanto com a nossa vida pessoal, ao ponto de se tornarem uma coisa só. Ainda sim não me sinto punido por isso, muito pelo contrário, fico feliz pelo privilégio de poder exercer uma profissão maravilhosa como a advocacia.
Talvez o trabalho seja uma simples vocação, um chamamento irresistível, uma inspiração, uma lei natural que nos compele ao esforço na mesma medida em que nos recompensa, ainda que às vezes tardiamente. E toda essa reflexão surgiu porque vi injustiça na história de uma mulher repetidamente humilhada em seu ambiente de trabalho.
Achei injusto, mesmo inconscientemente, e me coloquei a refletir sobre a questão. Refletindo sobre o trabalho dos outros, pensei também sobre o meu trabalho e alcancei conclusões que, embora aparentemente vagas, me fizeram valorizar ainda mais a minha profissão e também as outras. Eis aqui mais um aspecto positivo do trabalho.

2 comentários:

  1. Olá,
    Parabéns pelo blog, muito boa sua iniciativa.
    Estou formado há algum tempo, mas nunca exerci a advocacia em razão do cargo público que ocupava.
    Agora resolvi abraçar a profissão e na área criminal, mas sinceramente não sei nem por onde começar? Onde procurar os clientes? Não sei se é válida a famosa "porta de cadeia/presídio" e outras práticas..
    O que fiz até o momento foi me oferecer como defensor dativo aqui nas varas criminais, que já me renderam algumas nomeações..
    Ficarei grato se puder dar algumas dicas nesse sentido!
    Atenciosamente,
    Thiago.

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    1. Prezado Thiago,
      Fuja da porta da cadeia. Infelizmente ainda hoje existem advogados que se prestam a esse papel, mas isso não leva a lugar nenhum e apenas macula a imagem do profissional. O advogado não deve procurar clientes, deve, sim, ser procurado por eles.
      Muitos dos grandes advogados iniciaram suas carreiras como advogados dativos. Waldir Troncoso Peres atuou como defensor dativo no Tribunal do Júri por 15 anos. Faça cartões de visita, atualize a sua rede de contatos, reencontre velhos amigos e conhecidos.
      O mercado precisa saber que você está advogando. No começo aparecerão causas de familiares, amigos e conhecidos, depois aparecem causas de amigos de familiares, amigos de amigos, e por aí vai.
      Mostre para os seus clientes quem é você, deixe-os sempre com o seu cartão. Aos poucos as coisas começam a acontecer, mas no começo é tudo muito devagar mesmo. Não se faz uma carreira bem sucedida da noite para o dia, então é preciso ter muita paciência.
      Espero ter ajudado,
      Abraço

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